Conhecido mundialmente desde a antiguidade, o processo de fabrico de cal viva, cal virgem ou óxido de cálcio, consiste em desidratar os blocos de calcário através da cozedura, durante 2 ou 3 dias, transformando-os quimicamente. A cal seria usada como matéria-prima para a construção civil, principalmente para produzir argamassas brancas, estuques e adobes, e caiação. Poderia ser usada na agricultura para o tratamento desinfestante da vinha ou árvores de fruto, fertilizante em solos ácidos e nas indústrias transformadoras, como a do vidro. Tiveram grande desenvolvimento industrial em Portugal entre meados do séc. XIX e o fim em inícios do séc. XX.
Embora os fornos de cal na sua grande maioria estejam localizados nas imediações das pedreiras, no Noroeste português a cal era transportada desde o Sul de Aveiro e Setúbal até toda a costa norte. Para se fazer cal havia necessidade de ter fontes de água próximas e muita madeira, para a combustão, o que de certa forma condicionou a localização da edificação dos fornos.
Sabe-se que o transporte de calcário era efetuado de barco até às embocaduras dos rios mais importantes, como o Cávado, Lima e Minho. Esta informação é comprovada pela existência de inúmeros fornos de cal nesta região, localizadas em Viana do Castelo, Ponte de Lima e Caminha. Depois rumariam em barcos mais pequenos para o interior, através dos mesmos rios.
Não existem documentos que comprovem o final desta indústria, mas pensa-se que logo na primeira década do séc. XX estas estruturas já estivessem em desuso pela expansão das linhas férreas que permitem uma circulação mais ágil dos produtos.
As estruturas dos fornos pouco mudaram ao longo do tempo. No seu interior desenvolve-se o forno (1) propriamente dito, formando uma câmara cilíndrica que era cheia de calcário desde o topo da abóbada (2) que era aberta (3) para permitir o despejo da rocha. Junto à base, temos a porta (4), por onde era metida a lenha, que servia de combustível. Na parte exterior, normalmente há uma rampa em espiral ou estrutura em madeira (5) de acesso ao topo da abóbada, por onde era despejado o calcário.
A presença deste forno provavelmente deu origem ao topónimo local “Caldeirão”, que ainda é usado, onde há referências de ter saído de lá cal viva para ser usada em obras de muitas casas e igrejas da região.