Criado no âmbito do projeto do Canal Interceptor de Esposende, este espaço inundável apresenta as condições ecológicas e ambientais de um charco permanente com algumas poças temporárias mais expostas à sazonalidade.
Nesta zona húmida naturalizada, alimentada por inúmeras ribeiras ou linhas de água conduzidas até aqui pelo canal, foi promovida a instalação e o desenvolvimento de várias comunidades vegetais autóctones caraterísticas destes meios:
· As higrófilas, de maior porte, formam galerias ripícolas nas margens e taludes, como os salgueiros (Salix atrocinerea, S. salvifolia, S. arenaria), o amieiro (Alnus glutinosa), o freixo (Fraxinus angustifolia subsp. angustifolia), o sanguinho-de-água (Frangula alnus) e o sabugueiro (Sambucus nigra).
· As espécies palustres, mais associadas à linha formada pelo canal e à área encharcada, são designadas por helófitas e têm um tamanho médio. As mais conhecidas são as tabuas (Typha angustifolia e T. latifolia), o lírio-amarelo-dos-pântanos (Iris pseudacorus), o caniço (Phragmites australis) ou os diversos juncos (Juncus acutus, J. capitatus, J. maritimus, Eleocharis palustris).
· As menores e que vivem no interior do charco, mais dependentes da disponibilidade de água, são as hidrófilas ou plantas aquáticas propriamente ditas, tais como os ranúnculos (Ranunculus peltatus, R. omiophyllus), a tanchagem-de-água (Alisma plantago-aquatica) ou os miosótis (Myosotis welwitschii).
Atraída por circunstâncias favoráveis, a biodiversidade nativa já começou a fixar-se.
Os anfíbios e os diferentes invertebrados que lhes servem de alimento (primeiros a colonizar este biótopo), como a colorida salamandra-de-pintas-amarelas Salamandra salamandra ao pequeno tritão-de-ventre-laranja Triturus boscai ou ainda o endemismo ibérico sapo-de-unha-negra Pelobates cultripes, são muitos os que aqui se abrigam e reproduzem, conforme atestam as miríades de larvas (girinos) que encontramos junto à ponte a jusante. Igualmente exclusivo da nossa península, o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) é um réptil que se poderá observar.
Pequenas aves, como as toutinegras ou as felosas e os rouxinóis (Sylviidae) atarefam-se aqui com a abundância de comida. O passeriforme mais conspícuo é o residente cartaxo-comum (Saxicola rubicola) e o seu congénere pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) também procura este local para se reabastecer durante o período das passagens migratórias de setembro. Conforme o nome indica, espécies de grande relevância ecológica para o Parque Natural do Litoral Norte, como o rouxinol-pequeno-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus) ou a escrevedeira-dos-caniços (Emberiza schoeniclus) procurarão aqui proteção.
Mamíferos como o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) são facilmente observados em pleno dia junto à duna. De hábitos insetívoros e mais crepusculares, o ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) prefere o sossego dos bosques envolventes.
Como um certificado de boa qualidade do meio, as libélulas e libelinhas (Odonata) também aqui proliferam juntamente com outras da mesma ordem. A borboleta-zebra (Iphiclides feisthamelii) e a borboleta-cauda-de-andorinha (Papilio machaon) são dos polinizadores mais atraentes a contribuírem para a renovação da vida silvestre. Outro lepidóptero, a fritilária-dos-lameiros (Euphydryas aurinia), que aqui ocorrerá enquanto restarem alguns núcleos de silvas (Rubus spp.), evoca-nos para a (?).
É urgente respeitar estes valores naturais, alguns consagrados como prioritários para a conservação no âmbito de diretivas comunitárias.