As zonas húmidas são ambientes intermédios entre os ecossistemas aquáticos e os ecossistemas terrestres, alagadas com água, podendo ser permanentes ou sazonais. São locais de grande interesse paisagístico, importantes no controle hídrico e áreas de enorme biodiversidade, constituindo habitat para uma grande variedade de animais e plantas, incluindo muitas espécies ameaçadas ou em perigo de extinção, sendo estes habitats considerados prioritários pela Diretiva Habitat.
Na área do Parque do Parque Natural do Litoral Norte, para além das zonas estuarinas, encontramos outras zonas húmidas como as depressões húmidas intradunares e o caniçal de Apúlia.
As depressões dunares com solos húmidos e até sazonalmente inundados, entre as dunas secundárias, podendo encontrar-se matagais densos de salgueiro-anão (Salix arenaria) e, por vezes, borrazeira-preta (Salix atrocinerea) se os períodos de encharcamento forem mais prolongados (embora não tenham as características típicas dos ambientes palustres).
Nestas comunidades de salgueiros arbustivos são também frequentes espécies de plantas ciperáceas e de gramíneas, bem adaptadas a solos encharcados, como o bunho (Scirpoides holochoenus), junco-escuro (Schoenus nigricans) e carriço-da-areia (Carex arenaria).
Em conjunto, contribuem para a fixação das dunas e na formação e retenção do solo, impedindo fenómenos como a perda de solo arável e a erosão costeira.
O caniçal de Apúlia constitui o único vestígio, a norte de Espinho, do amplo ambiente lagunar que dominou a costa durante os últimos 4 mil anos. Esta antiga lagoa é agora uma zona húmida (já intervencionada para aumentar a retenção de água), que apresenta uma grande sazonalidade no volume de água.
A comunidade aqui designada como caniçal, compreende os locais onde existe dominância de caniço (Phragmites australis), uma espécie hidrófila favorecida pelas zonas mais estagnadas dos cursos de água. Por vezes associados aos caniçais, ocorrem concentrações de várias espécies de tabúa (Typha spp.) e constituem um habitat de grande importância para muitas espécies de avifauna.
Um conjunto de espécies de aves utiliza este local para repousar e para se alimentar durante o período migratório, enquanto outras o utilizam para se reproduzirem ou como local de invernada. A presença de valas e o encharcamento generalizado deste biótopo favorece ainda a ocorrência de espécies de anfíbios que aqui se reproduzem.
A ladear a área de caniçal encontramos comunidades ripícolas arbóreas (florestas-galeria) caracterizadas pela presença de plantas da classe Querco-fagetea, como o amieiro (Alnus glutinosa), freixo (Fraxinus angustifolia), salgueiros (Salix spp.) e choupos (Populus spp.). Estas espécies contribuem para a fixação e manutenção das margens, pois são resistentes à submersão pelas cheias, regenerando os danos causados pelas mesmas.