Natureza e Biodiversidade

Habitats

Mar

O Parque Marinho do Litoral Norte encontra-se numa área de grande interesse ecológico, marcada por uma faixa extensa de recifes rochosos (habitat 1170), de grande complexidade, dos quais dependem espécies de algas, peixes e invertebrados para abrigo, alimento e reprodução. Aliada a este facto, a existência de uma extensão de florestas de algas laminárias – a maior já mapeada em Portugal – um dos habitats mais produtivos e diversos do planeta e que fornece valiosos bens e serviços a este Parque, vem reforçar o interesse ecológico desta área. As águas costeiras do Parque Marinho estendem-se até cerca de 2,5 milhas náuticas da linha de costa (cerca de 4,7km), o que permite englobar áreas frequentadas pelas grandes espécies de vertebrados marinhos característicos das águas abertas oceânicas, como os golfinhos e por vezes baleias e tartarugas marinhas. Entre os cetáceos que podem ser observados regularmente nestas águas, aproveitando a riqueza de peixe local para se alimentarem, destacam-se o boto (Phocoena phocoena), o golfinho-comum (Delphinus delphis) e o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus). Mais raramente, também é possível observar espécies com hábitos pelágicos, que preferem as águas oceânicas mais ao largo, mas que ocasionalmente se aproximam do litoral de Esposende, como o golfinho-de-risso (Grampus griseus). Em termos de “peixes”, tanto peixes ósseos como tubarões e raias, estão identificadas 140 espécies. As aves marinhas são outro grupo de vertebrados bem representado no Parque Marinho do Litoral Norte, sobretudo durante a época de migração e nos períodos de invernada, podendo aproximar-se bastante da costa durante períodos de mau tempo e grandes temporais. Nos períodos migratórios e de invernada destacam-se espécies como a negrola (Melanitta nigra), que pode ser vista em grandes bandos nos meses de inverno a poucas dezenas de metros da costa; ou o alcatraz (Morus bassanus), a pardela de-barrete (Ardenna gravis), a pardela-balear (Puffinus mauretanicus) e o alcaide (Catharacta skua).

Recifes

Os fundos marinhos do Parque Marinho do Litoral Norte são ocupados por extensos afloramentos rochosos que perfazem 58% da sua área    

Bancos de areia

Permanentemente cobertos por água do mar pouco profunda. Este habitat inclui bancos de areia, não consolidados, sempre submersos por águas salgadas pouco profundas em zonas costeiras e estuários. Estes bancos de areia não apresentam vegetação. É um habitat muito importante no ciclo de vida de alguns animais marinhos e como área de alimentação de avifauna.

Estuários

O Parque Natural do Litoral Norte (PNLN) é recortado por várias linhas de água que drenam diretamente para o oceano, embora as mais importantes sejam os rios Cávado e Neiva, que têm dimensões suficientes para a ocorrência de habitats estuarinos importantes, nas zonas de influência diária das marés. Esta subida e descida regular das águas alarga substancialmente as áreas estuarinas e forma uma rede de canais, braços e ilhas que proporcionam abundante refúgio para a vida selvagem, quer na componente terrestre ocupada por comunidades de plantas muito diversas como os sapais, juncais e caniçais, quer na componente aquática das águas, planos de vasa (lodos) e bancos de areias estuarinas, muito ricos em nutrientes que aqui circulam e se depositam diariamente. Os estuários estão, por isso, entre os ecossistemas mais produtivos da Terra e com os mais altos índices de biodiversidade, quer em termos de número de espécies quer de habitats. Os estuários são excelentes zonas de abrigo e alimentação diária para as aves aquáticas, como patos, garças e aves limícolas (que se alimentam nas vasas expostas a cada maré baixa), fornecendo refúgios essenciais sobretudo durante o inverno e nos períodos migratórios, quando as aves gastam imensa energia nas suas longas viagens entre os locais de nidificação e invernada. Na área terrestre do PNLN foram já identificadas 142 espécies diferentes de aves, das quais 115 podem ser observadas com regularidade. As águas estuarinas e as zonas de sapal mais baixo que permanecem quase sempre inundadas são também essenciais para a desova e criação dos alevins de peixes e de muitos invertebrados marinhos, constituindo autênticas maternidades naturais, importantes para muitas espécies com interesse comercial como os robalos, sargos, enguias e lampreias. Em termos florísticos, este habitat apresenta combinações variáveis de Armeria maritima, Aster tripolium subsp. pannonicus, Beta maritima, Halimione portulacoides, Juncus maritimus, Plantago maritima, Sarcocornia. As espécies características do sapal baixo pertencem às famílias Chenopodiaceae e Gramineae. O sapal médio também é dominado por plantas da família Chenopodiaceae. O sapal alto apresenta além das Chenopodiaceae, espécies de outras famílias (Gramineae, Compositae ou Plumbaginaceae).

Dunas

A área terrestre do PNLN é largamente constituída por sistemas dunares com importantes conjuntos de dunas primárias e secundárias, com dimensões variáveis entre os 50 e 300m de largura, mas sempre inferiores a 20m de altura. Os sistemas dunares constituem uma das marcas mais distintivas da paisagem litoral de Esposende, tendo a particularidade de se encontrarem entre os melhor preservados e mais extensos de toda a costa portuguesa. As dunas estão entre as melhores proteções naturais contra a erosão costeira e galgamento do mar durante grandes temporais e fenómenos climáticos extremos. Contudo, a vegetação que cobre e fixa as areias das dunas é muito sensível, pelo que a sua conservação é prioritária. As sendo um ecossistema complexo, mas de elevada fragilidade, as dunas são estruturas móveis, resultantes da acumulação de areia transportada pelo vento. Constituem pontos de interesse paisagístico e cultural, destacam-se pela sua diversidade de fauna e flora exclusiva. Nas areias das praias, plantas como o Feno-das-areias (Elymos farctus) e carqueja-mansa (Cakile marítima) são as espécies pioneiras capazes de suportar o ambiente extremo, dando início à estabilização e formação das dunas embrionárias. Oscilante ao vento, o Estorno (Ammophila arenaria), impõe-se no topo das dunas frontais, resistindo aos ventos e à salsugem. Por detrás destas, em ambiente mais seco e abrigado, desenvolve-se uma comunidade vegetal mais complexa, na qual se contam, por exemplo, o Cardo-marítimo (Eryngium maritimum), o Lírio-das-areias (Pancratium maritimum) ou a aromática Perpétua-das-areias (Helichrysum italicum). A vegetação das dunas são fonte de alimento e abrigo para muitos animais, incluindo insetos, anfíbios, como o sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes) e répteis como o sardão-ocelado (Timon lepidus), mamíferos e aves, entre as quais se destaca o Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) com uma das mais significativas populações reprodutoras do território nacional. Estas áreas são um tesouro natural e devem ser preservadas para assegurar a manutenção da biodiversidade local. A vegetação dunar deve ser realçada pelo seu papel estabilizador das areias litorais, que se torna cada vez mais importante devido ao avanço do mar e ao défice de sedimentos que se têm verificado nas praias do concelho de Esposende.

Zonas húmidas

As zonas húmidas são ambientes intermédios entre os ecossistemas aquáticos e os ecossistemas terrestres, alagadas com água, podendo ser permanentes ou sazonais. São locais de grande interesse paisagístico, importantes no controle hídrico e áreas de enorme biodiversidade, constituindo habitat para uma grande variedade de animais e plantas, incluindo muitas espécies ameaçadas ou em perigo de extinção, sendo estes habitats considerados prioritários pela Diretiva Habitat. Na área do Parque do Parque Natural do Litoral Norte, para além das zonas estuarinas, encontramos outras zonas húmidas como as depressões húmidas intradunares e o caniçal de Apúlia. As depressões dunares com solos húmidos e até sazonalmente inundados, entre as dunas secundárias, podendo encontrar-se matagais densos de salgueiro-anão (Salix arenaria) e, por vezes, borrazeira-preta (Salix atrocinerea) se os períodos de encharcamento forem mais prolongados (embora não tenham as características típicas dos ambientes palustres). Nestas comunidades de salgueiros arbustivos são também frequentes espécies de plantas ciperáceas e de gramíneas, bem adaptadas a solos encharcados, como o bunho (Scirpoides holochoenus), junco-escuro (Schoenus nigricans) e carriço-da-areia (Carex arenaria). Em conjunto, contribuem para a fixação das dunas e na formação e retenção do solo, impedindo fenómenos como a perda de solo arável e a erosão costeira. O caniçal de Apúlia constitui o único vestígio, a norte de Espinho, do amplo ambiente lagunar que dominou a costa durante os últimos 4 mil anos. Esta antiga lagoa é agora uma zona húmida (já intervencionada para aumentar a retenção de água), que apresenta uma grande sazonalidade no volume de água. A comunidade aqui designada como caniçal, compreende os locais onde existe dominância de caniço (Phragmites australis), uma espécie hidrófila favorecida pelas zonas mais estagnadas dos cursos de água. Por vezes associados aos caniçais, ocorrem concentrações de várias espécies de tabúa (Typha spp.) e constituem um habitat de grande importância para muitas espécies de avifauna. Um conjunto de espécies de aves utiliza este local para repousar e para se alimentar durante o período migratório, enquanto outras o utilizam para se reproduzirem ou como local de invernada. A presença de valas e o encharcamento generalizado deste biótopo favorece ainda a ocorrência de espécies de anfíbios que aqui se reproduzem. A ladear a área de caniçal encontramos comunidades ripícolas arbóreas (florestas-galeria) caracterizadas pela presença de plantas da classe Querco-fagetea, como o amieiro (Alnus glutinosa), freixo (Fraxinus angustifolia), salgueiros (Salix spp.) e choupos (Populus spp.). Estas espécies contribuem para a fixação e manutenção das margens, pois são resistentes à submersão pelas cheias, regenerando os danos causados pelas mesmas.

Matas

As áreas florestais do Parque são dominadas por zonas arborizadas com pinhais, essencialmente, constituídos por povoamentos de pinheiro-bravo (Pinus pinaster), com alguns pinheiros-mansos (Pinus pinea), que resultaram de plantações ou por regeneração natural, estabelecendo um biótopo agora estável. No PNLN esta comunidade está restrita a uma parte do pinhal dunar, com predominância a sul do Cávado. Entre Fão e Apúlia, surgem atualmente áreas de pinhal misturados com outras espécies arbóreas como o carvalho-alvarinho (Quercus robur), o sobreiro (Quercus suber), o amieiro (Alnus glutinosa), salgueiro (Salix atrocinerea), loureiro (Laurus nobilis) e o pilriteiro (Crataegus monogyna). O estrato arbustivo é bastante desenvolvido e diverso, podendo apresentar espécies como o sabugueiro (Sambucus nigra), o sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus) e as silvas (Rubus ulmifolius), existe também um estrato lianóide (trepadeiras), onde podemos encontrar: a hera (Hedera madeirenses subsp. iberica), as madressilvas (Lonicera spp.), o arrebenta-boi (Tamus communis) e a erva-de-são-tiago (Senecio mikanioides).  Estas áreas podem, periodicamente, ser inundadas. Este habitat apresenta-se em situação critica dada a sua pequena distribuição e abundância. A regressão dos bosques autóctones deve-se sobretudo à influência de fatores externos, conduzindo estes habitats a pequenas manchas e à sua fragmentação. Entre as principais ameaças que colocam em risco a conservação das matas florestais está a invasão por espécies exóticas, como as acácias (Acacia spp.) ou a erva-das-pampas (Cortaderia selloana), sendo particularmente nefastas no subcoberto arbustivo onde ocorre a maior parte da biodiversidade florística e a intervenção humana, quer para o abate de árvores para extração de madeira, alteração dos níveis dos lenções freáticos ou ainda as atividades de agrícolas. Por se tratarem de habitats em risco de regressão o PNLN tem especial interesse na sua conservação, contribuindo para a preservação de uma paisagem natural que remonta ao passado, num período pré intervenção antrópica, sendo que a divulgação deste habitat deve ser tida em conta. Para além do valor patrimonial, historio e natural da pequena mancha de folhosas, destacam-se outros serviços prestados por este ecossistema, tais como a regulação do ciclo de água; retenção do solo e produção de madeira, para além da sua riqueza em termos de biodiversidade.  
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Quem ama a natureza, encontra beleza em todos os lugares
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